A Leguminosa do Mês: Fava
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- 3 de Dezembro, 2021
Depois da descrição da cultura da ervilha, no mês de Dezembro, a fava é a leguminosa estrela da nossa rubrica mensal “Leguminosa do Mês”. As favas são conhecidas pelo seu sabor peculiar e também por apresentarem cores e tamanhos da vagem distintos. Neste artigo, vamos partilhar algumas das principais dicas produtivas para a cultura da fava (Vicia faba L.), assim como as características e as práticas culturais mais interessantes que deve ter em conta para o seu sucesso produtivo.
Origens e principais características da cultura
A fava pertence à família botânica das Fabaceae e teve origem no Próximo Oriente. Após a sua descoberta, foi disseminada pela região mediterrânica, o que resultou num aumento gradual do seu consumo. As vagens desta cultura caracterizam-se por serem “rasas” e ligeiramente curvadas e podem medir até 15 cm de comprimento. Normalmente, cada vagem apresenta cerca de duas a quatro sementes no seu interior.
Dependendo da variedade escolhida, a fava pode crescer até cerca de 1,5 m de altura. A cor das suas sementes também depende da variedade escolhida e oscila entre diferentes tonalidades, sendo a mais comum a branca.
São exemplos de algumas das principais variedades de favas: Aquadulce claudia (vagem comprida e sementes de cor branca), Imperial green longpod (vagem comprida e sementes verdes) e Bunyards exhibition (vagem comprida com sementes brancas).
Principais condições edafoclimáticas
A fava é uma cultura de clima frio (estação de outono-inverno) e, por isso, resiste bem a temperaturas baixas e geadas ligeiras. Deste modo, existem poucas cultivares de fava que resistam bem a temperaturas mais altas, o que influencia o momento de instalação desta cultura.
A drenagem do solo, a fertilidade e o teor em matéria orgânica são fatores que devem estar em condições ótimas para a instalação da cultura. Esta não tolera solos muito ácidos, pelo que o pH ideal deve-se situar entre 6,0 e 6,8.
Tal como a generalidade das leguminosas, esta cultura é muito boa na nodulação das raízes e melhoram a fixação do azoto atmosférico no solo. Outro aspeto interessante é que a fava é bastante tolerante a altos teores de sais no solo. O seu ciclo cultural requer uma boa exposição solar e uma baixa incidência de ventos fortes (essencial usar tutores).
A instalação da cultura
A época ideal para semear favas é, dependendo da cultivar escolhida, entre o final do outono e princípio do inverno. Tendo em conta as nossas condições climáticas, a sementeira é feita nas estações mais frias do ano, recorrendo à sementeira em linhas. O espaçamento entre linhas usado varia entre 0,40 a 0,80 m e o espaçamento na linha de 0,15 a 0,30 m.
A profundidade de sementeira utilizada normalmente oscila entre os 5 e os 8 cm, sendo a quantidade de semente utilizada por hectare dependente do compasso de sementeira adotado. Este pode oscilar entre os 70 a 200 kg.
A germinação desta cultura, caso as sementeiras sejam favoráveis, acontece entre os 8 a 12 dias. Para antecipar esta fase inicial pode se demolhar as sementes em água por um período de cerca de 24h.
Na cultura da fava é também realizada a desponta com o principal objetivo de tornar as hastes da planta mais robustas e promover uma maior fecundação das flores. Após a entrada na floração, deve ser efetuado o desbaste das extremidades de forma a minimizar o risco do aparecimento de pragas como por exemplo o piolho negro.
É importante ainda ter em conta que devido ao seu crescimento em altura, as plantas de fava necessitam de ter o seu crescimento auxiliado através da colocação de tutores.
O período crítico de défice hídrico desta cultura concentra-se nas fases de germinação, floração e fase de enchimento das vagens. A falta de água nestes períodos pode comprometer o processo germinativo, induzir abortos florais, diminuir o número de vagens formadas bem como o seu comprimento e tamanho das sementes.
Quanto à fertilização, a aplicação de doses elevadas de azoto pode prejudicar a fixação simbiótica deste macronutriente. Especialmente se o solo for rico em matéria orgânica ou então quando a cultura da faveira se segue a outras em que tenha sido aplicada adubações azotadas elevadas, a aplicação de azoto deve ser bastante reduzida.
Principais pragas e doenças na cultura da fava
Um dos problemas fitossanitários mais frequente nesta cultura é o pulgão-preto, que pode ser minimizado com o desbaste das extremidades das plantas. Esta cultura pode também ser frequentemente atacada por outras pragas como a coleóptera, larvas mineiras, nóctuas e tripes. As doenças mais frequentes na cultura da fava são as micoses, ferrugem, fusariose, podridão cinzenta e a mancha-chocolate. Medidas culturais, tais como, eliminação de infestantes e de restos da cultura, rotações de culturas, utilização de sementes certificadas e gestão correta dos recursos hídricos podem ser adotadas para minimizar o aparecimento destes problemas. Existem ainda vários produtos fitofarmacêuticos autorizados para esta cultura que pode consultar aqui selecionando a cultura “faveira”.
A colheita da fava
A colheita deve ser realizada consoante as características e duração do ciclo de cada variedade, dado que estes parâmetros influenciam a qualidade e conservação do produto final produzido. Dependendo das variedades escolhidas, a colheita das vagens desta cultura pode realizar-se entre os 80 a 150 dias após a data da instalação da cultura e é realizada manualmente, na maioria dos casos. Este momento normalmente corresponde à fase em que o grão já não apresenta hilo negro.
Para um tempo de armazenamento superior, há quem proceda à secagem das favas colhidas para prolongar a sua longevidade, mas também à conservação a temperaturas de 0 ºC, com 95 % de humidade relativa, durante um período de cerca de três semanas.
O consumo
A fava está, normalmente, associada a pratos mais pesados e a alto teor calórico. Se é verdade que, se consumidas em grandes quantidades, podem ter alguns efeitos indesejados, a sua inclusão na nossa alimentação (de uma forma equilibrada) tem diversas vantagens. O seu perfil nutricional contribui para o estímulo do sistema imunológico e da digestão. Assim, introduzi-las em sopas, saladas ou até para fazer um hummus é uma forma simples e leve de incluí-las na nossa dieta.