A sementeira do grão de bico

No projeto LeguCon, um dos nossos objetivos é avaliar a adaptação da cultura do grão de bico em três explorações agrícolas da Região Norte e também no Centro.

O nosso parceiro Lusosem cedeu a semente de grão de bico Casal Vouga, variedade portuguesa registada no Catálogo Nacional de Variedades em 2020 pela Egocultum.

O nosso agricultor participativo André Martins tem 22 anos e tem a sua exploração agrícola localizada em Barcelos. O André juntou-se ao projeto LeguCon porque pretende tornar a sua exploração o mais eficiente e sustentável possível, investir em práticas agrícolas sustentáveis e ter apoio especializado para fazê-lo. O grão de bico está instalado nos terrenos da sua exploração há cerca de três semanas e encontra-se neste momento em fase de crescimento vegetativo.

Mobilização mínima adotada pelo agricultor André Martins em Barcelos.

Em Paredes de Coura, está localizada outra exploração agrícola, representada pelo nosso agricultor participativo Paulo Eurico, de 48 anos. Por reconhecer o valor do grão de bico como um produto altamente nutritivo e com benefícios para a saúde humana, quis colaborar com o projeto LeguCon para ter apoio na instalação desta cultura nos seus terrenos. Instalou a cultura há cerca de duas semanas.

Início do desenvolvimento vegetativo da cultura na exploração do agricultor Paulo Eurico Pereira.

O Tiago Padrão tem 37 anos e a sua exploração está localizada em Vila do Conde. Este agricultor participativo já tem experiência em espécies leguminosas forrageiras e viu na colaboração com o projeto LeguCon uma possibilidade de explorar a valorização destas culturas em grão para a alimentação humana. O Tiago optou pela sementeira direta como método de instalação da cultura. Uma das razões para esta opção foi avaliar se o controlo de plantas infestantes através deste método é mais eficaz.

Além destes três agricultores participativos contamos ainda com um ensaio de produção de grão de bico no Centro de Ação Social do Concelho de Ílhavo (CASCI), em Aveiro. Este Centro de Acção Social tem particularidades edafoclimáticas únicas como por exemplo a existência de um solo extremamente arenoso. Além de testarem a adaptação desta cultura nos seus terrenos, a CASCI pertence dar visibilidade à empregabilidade de pessoas com deficiência e aposta em diversas atividades para promover a sua inclusão na comunidade.

Desenvolvimento vegetativo no terreno arenoso na área de produção da CASCI.

Temos também uma colaboração a decorrer com o produtor Rui Torres, de Figueira de Castelo Rodrigo. A unidade de produção denominada de Quinta da Ferradosa, localizada em pleno Vale do Côa, trata-se de uma pequena exploração agroindustrial que se dedica à produção e transformação em modo de produção biológico de azeitona para azeite, amêndoa, figo seco, ameixa seca. Esta colaboração com o projeto LeguCon teve como objetivo instalar leguminosas para incluir numa rotação de cultura com cereais de inverno para seguir a linha das restantes culturas que se baseiam no princípio da redução da aquisição de fatores de produção.

Desenvolvimento vegetativo na área agrícola de Rui Torres.

A sementeira do grão de bico teve início mais tarde do que o esperado. Devido às particularidades de cada exploração agrícola participativa tem sido muito desafiante planear estrategicamente cada fase do ciclo cultural. A planta do grão de bico é herbácea, apresenta um pequeno porte (até 60 cm de altura), é pubescente e apresenta maior tendência para alastrar do que para crescer em altura. Na variedade Casal Vouga escolhida para estes ensaios as suas flores são solitárias e apresentam coloração branca. Durante a fase reprodutiva da cultura, as flores dão origem a vagens curtas e entumescidas que podem conter uma ou duas sementes. As folhas desta planta apresentam tonalidade verde clara ou verde acinzentada, possuindo pelos com glândulas responsáveis pela segregação.

Um dos aspetos fundamentais a ter em conta no momento da sementeira é a profundidade a que é colocada a semente. A sementeira deve ser superficial para facilitar a sua germinação. Há até um ditado antigo que diz que “o grão de bico gosta de ver o dono a ir para casa”, comprovando assim a importância de não fazer uma “sementeira profunda”. O grão de bico gosta de solos com textura média, ricos em calcário e bem drenados. Alguns dos nossos agricultores participativos colocaram calcário no solo na fase de preparação do solo, muito pelo facto da generalidade dos terrenos onde então a ocorrer os terrenos serem moderadamente ácidos.

De forma a tornar o solo mais leve e meteorizar a terra, os nossos agricultores adotaram sistemas de mobilização mínima para os seus terrenos, recorrendo a alfaias como grades de discos por exemplo. As sementes da variedade Casal Vouga utilizadas nos nossos ensaios não são tratadas com fungicida, sendo apenas inoculadas. A germinação do grão de bico demorou de 10 a 12 dias a ocorrer nos nossos campos de ensaio. Fatores como o tipo de solo, profundidade da sementeira e grau de humidade do solo podem fazer toda a diferença no tempo necessário para esta cultura germinar. Para além da presença de água, uma boa preparação do solo é fundamental para a germinação ocorra sem problemas. Em geral, os nossos agricultores participativos utilizaram um semeador pneumático, com linhas distanciadas de 30 a 50 cm.

Dado que na maior dos nossos agricultores participativos a cultura do grão de bico está a desenvolver-se bem, contamos nos próximos dias trazer mais novidades sobre o estado das plantas e principais desafios encontrados. Podemos já dar uma dica… as infestantes. Queremos estudar a fundo soluções para este problema e em breve faremos um resumo sobre as principais técnicas que utilizamos nos nossos ensaios!

Planta de grão de bico nas primeiras fases do ciclo de cultura.