Os objetivos socioeconómicos do projeto Legucon

Uma das principais missões do projeto LeguCon é agregar os diferentes intervenientes da cadeia de valor das leguminosas desde os produtores agrícolas até aos consumidores. Neste artigo, pretendemos explicar em maior detalhe os objetivos socioeconómicos do projeto LeguCon e de que forma estes pretendem responder às necessidades atuais da nossa sociedade e economia.

(Para conhecer mais sobre os Agricultores Participativos que produziram grão de bico e feijão frade, clique nos links respetivos)

1-Aumentar o conhecimento sobre o papel das leguminosas numa produção alimentar sustentável

Em Portugal, em 1946, a produção de leguminosas atingiu valores máximos, resultando numa vasta implementação destes alimentos na cultura e tradição portuguesas e no desenvolvimento de inúmeras receitas. Assim, até à década de 60, as leguminosas foram um dos principais alimentos produzidos na agricultura, sendo parte integrante da alimentação humana e também da alimentação animal. A entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia, levou a mudanças socioeconómicas drásticas e decorrentes alterações nas práticas agrícolas. O consumo de leguminosas diminuiu quase até à nulidade e a sua produção foi perdendo competitividade [como já discutimos anteriormente num artigo dedicado à produção de leguminosas em Portugal (leia aqui)].

Atualmente, deparamo-nos com uma nova mudança do paradigma socioeconómico, onde a sustentabilidade está a tornar-se num pilar para os novos estilos de vida. É, por isso, importante, demonstrar de que forma as leguminosas contribuem para a sustentabilidade ambiental, alimentar e animal – ou seja, para todo o ecossistema – de uma forma eficaz, saudável e rentável.

2-Diminuir as barreiras de consumo das leguminosas, salientando o seu papel numa alimentação saudável

Num estudo de inquérito recente desenvolvido pela nossa equipa, cerca de 7% dos participantes ainda consideram que as leguminosas são um “alimento dos pobres”. Esta barreira, associada ao contexto socioeconómico descrito no Ponto 1, tem perdido muito do seu impacto ao longo dos últimos anos, devido à mudança das dietas a nível mundial. Mas este estatuto menor destes alimentos precisa ainda de ser desmistificado.

Mais ainda, a presença de determinados compostos (não-nutricionais) na composição das leguminosas que, em algumas circunstâncias, podem resultar em desconforto gastrointestinal ou outros sintomas adversos, são exemplo de outras barreiras ao consumo destes alimentos. O que está pouco divulgado é que estes efeitos mais indesejados podem ser facilmente contrapostos com técnicas acessíveis a todos, tais como, a correta demolha dos grãos e uma cocção adequada.

Mais ainda, o consumo de leguminosas está muitas vezes associado ao ganho de peso e gordura, uma vez que, na nossa cultura, estes alimentos estão presentes em pratos altamente calóricos e muito pesados. A introdução gradual de leguminosas na nossa dieta, em pratos leves e equilibrados é muitas vezes a forma ideal para evitar os sintomas adversos comumente associados a estes alimentos.

A maioria dos consumidores não sabe ainda qual a dose diária recomendada para o consumo de leguminosas, no contexto de uma dieta equilibrada e saudável. Estes alimentos são ricos em fibra e minerais como por exemplo o cálcio e o ferro, e não têm glúten, pelo que são uma excelente forma de manter um regime alimentar mais equilibrado e nutritivo.

3-Promoção do valor das leguminosas em todas as fases do sistema alimentar (“do prado ao prato”), contribuindo para fortalecer a produção nacional de leguminosas

A Estratégia do Prado ao Prato está no centro do Pacto Ecológico. Um dos seus principais objetivos é “tratar de forma abrangente os desafios dos sistemas alimentares sustentáveis e reconhecer as ligações indissociáveis entre pessoas saudáveis, sociedades saudáveis e um planeta saudável”. Por todos os motivos apresentados no nosso artigo sobre os objetivos agronómicos do projeto LeguCon, e agora neste sobre os objetivos socioeconómicos do projeto LeguCon, as leguminosas são inegavelmente uma ferramenta essencial para enfrentar o desafio da sustentabilidade económica, ambiental e social. É, por isso, um dos nossos grandes objetivos atuar sobre os diferentes passos da cadeia de valor das leguminosas: indústria dos insumos agrícolas, produção, processamento, embalagem, distribuição, consumo. Para isso, temos o nosso Consórcio LeguCon, do qual fazem já parte cerca de 72 parceiros. Estamos a construir uma base de stakeholders para podermos avançar com ações práticas conjuntas, no sentido de criar sinergias e promover a valorização das leguminosas nas cadeias de valor locais. Junte-se ao nosso Consórcio!

4-Destacar os benefícios nutricionais e ambientais decorrentes do seu consumo e produção

As leguminosas, são muito ricas nutricionalmente e fontes de proteínas, fibras e hidratos de carbono. Por possuírem um baixo índice glicémico e um teor reduzido de gordura, são bastante saciantes e é recomendado que dediquemos 4% do nosso prato a estes alimentos. Fazem também parte da sua composição compostos antioxidantes e probióticos, com inúmeras vantagens para a nossa saúde, já vastamente associados à prevenção de doenças cardiovasculares e diabetes.

As leguminosas aportam muitos benefícios ambientais para o nosso ecossistema tais como a redução da emissão de gases de efeito estufa, a captação de carbono dos solos, a redução do consumo de água e uma redução da aplicação de fertilizantes azotados de síntese.

Apesar de estarem em pontos da cadeia opostos, a produção e o consumo estão altamente correlacionados e uma produção sustentável só tem um verdadeiro impacto se estiver de mãos dadas com padrões de consumo sustentáveis.

5-Aliar a ciência e o cidadão para a otimização da produção de leguminosas, contribuindo para a criação de bibliografia sobre esta temática para posterior consulta

O LeguCon é um projeto que promove o aumento de produção de leguminosas no país, com uma vertente participativa e interativa entre ciência e cidadania.

Tendo em conta a experiência participativa que estamos a desenvolver, pretendemos demonstrar, em termos práticos, quais as vantagens de introduzir leguminosas num sistema cultural, assim como quais os principais obstáculos encontrados e formas para ultrapassá-los. Consideramos que a informação sobre o cultivo e consumo de leguminosas é de extrema importância para fomentar uma maior expressão destas culturas a nível nacional e por isso, desenvolveremos ao longo deste projeto bibliografia (guiões de cultivos, artigos científicos, webinars, etc) que possa servir de consulta a quem estiver interessado em dedicar-se a estas culturas.

Desta forma, os objetivos socioeconómicos do projeto LeguCon pretendem alavancar a produção local de leguminosas, para suportar o aumento do consumo e da introdução destes alimentos nas nossas dietas, de forma sustentável e aumentar assim o valor nutricional do nosso prato.