Leguminosas como fonte proteica principal?

Num estudo desenvolvido pela equipa da Universidade Católica Portuguesa, no âmbito do projeto LeguCon, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, a predisposição da população portuguesa para consumir leguminosas como fonte proteica principal foi avaliada.

O crescimento populacional e as alterações climáticas têm motivado a procura de padrões alimentares mais saudáveis e ambientalmente mais sustentáveis. Uma maior inclusão de alimentos de origem vegetal, como as leguminosas, pode fazer parte deste caminho.

As leguminosas fazem parte dos padrões alimentares desde a ancestralidade e têm um perfil nutricional rico em hidratos de carbono complexos, fibras, ferro, zinco e vitaminas do complexo B. Apesar de serem bem reconhecidas como substitutos da proteína animal, a sua utilização é ainda muito reduzida. Atualmente, a produção nacional de leguminosas assegura apenas 16,9% das necessidades em Portugal. Dado que existe uma baixa disponibilidade desta matéria-prima de origem nacional, as indústrias portuguesas de processamento dependem totalmente da importação para assegurar a distribuição de leguminosas até aos consumidores.

Predisposição para o consumidor utilizar leguminosas como substituto de carne ou pescado nos estudos realizados em 2014 (barras brancas) e 2020 (barras cinzentas). Diferenças estatisticamente significativas entre os estudos indicadas através de * p < 0,05 ou *** p < 0,001.

O objetivo deste estudo foi avaliar o consumo de leguminosas em duas amostras da população adulta portuguesa, e comparar a predisposição para a inclusão destes alimentos como substitutos proteicos da carne ou do pescado, em 2014 e 2020.

Em 2014, cerca de 20% dos entrevistados referiu que utilizava leguminosas como substituto da carne e do pescado e, em 2020, esta percentagem subiu para cerca de 32%. A percentagem de inquiridos que afirmaram não colocar tal hipótese diminuiu de 15% (2014) para 11,5% (2020). Mais ainda, a percentagem de indivíduos que demonstraram relutância perante esta mudança, respondendo ‘custar-me-ia muito fazer tal substituição’ diminuiu 7% e ‘não coloco tal hipótese’ diminuiu 3,5%.

As principais motivações e barreiras para o consumo de leguminosas foram identificadas e 77,5% da amostra mostrou não ter conhecimento sobre a sua porção diária recomendada. O desconhecimento dos benefícios das leguminosas para a saúde e para o ambiente pode também ser um contributo para o seu baixo consumo. É, por isso, crucial desenvolver estratégias para promover o consumo de leguminosas e que estas deixem de ser vistas como um “alimento inferior”.

Os portugueses parecem estar cada vez mais recetivos à possibilidade de substituição da carne e pescado por proteínas de origem vegetal, como as leguminosas. Ainda assim, o consumo de leguminosas no nosso país é manifestamente reduzido. É necessária a implementação de uma estratégia concertada que aposte na educação alimentar, mas também na disponibilização destes produtos de forma conveniente e atrativa para o consumidor. O sucesso desta estratégia seria um contributo muito relevante para a sustentabilidade ambiental e para garantir a segurança alimentar da população.

Pode ler o estudo na íntegra, aqui.