A Leguminosa do Mês: Ervilha
Um dos fatores que tornam as leguminosas ‘especiais’ é a sua alta diversidade! Existem leguminosas com diferentes cores, tamanhos, sabores e texturas. Este facto tem vantagens quer para o ambiente, quer para a nossa alimentação. Por forma a explorar esta diversidade, iremos, todos os meses, apresentar-vos uma leguminosas diferente, que será “A leguminosa do mês”! Já falamos sobre o grão-de-bico e o feijão-frade, e nesta rúbrica apresentaremos uma diferente…
A leguminosa do mês de Novembro é a ervilha (Fig. 1). A utilização da ervilha na alimentação é muito variada podendo ser cultivada quer para obtenção dos seus grãos (sementes secas), sementes e vagens imaturas e até pelos seus rebentos. Estes grãos imaturos são normalmente consumidos sob a forma de enlatados ou congelados.
Saiba mais sobre a cultura da ervilha
A ervilha foi domesticada no próximo Oriente, juntamente com outras culturas como o grão-de-bico e a lentilha, há pelo menos 9000 anos. Após esta fase acabou por se disseminar por outros continentes como o europeu e asiático. Pertence à família das fabáceas, do género Pisum spp., e divide-se em três variedades principais: (1) sativum, (2) macrocarpon e (3) arvense.
- (1) sativum engloba as ervilhas para debulhar tanto em fresco como para transformação industrial;
- (2) macrocarpon engloba as ervilhas com vagens comestíveis;
- (3) arvense é maioritariamente destinada à alimentação animal.
Estas cultivares agrupam-se como forrageiras, proteaginosas, horto-industriais e hortenses.
A variedade P. sativum var. arvense pertence ao grupo das cultivares forrageiras, é uma cultura de outono-inverno, e caracteriza-se por ser resistente ao frio. Possui uma elevada produtividade em termos de biomassa ao contrário da produtividade em grão. É muitas vezes cultivada para efeitos de sideração (Fig. 2).
O grupo proteaginosas engloba principalmente variedades destinadas à alimentação humana. Existem ainda as cultivares horto-industriais que são cultivadas a densidades elevadas e onde estão incluídas as ervilhas para congelar e para enlatados.
Por último, nas cultivares hortenses, incluem-se as ervilhas de vagens comestíveis.
A riqueza nutricional das ervilhas
Nutricionalmente, a ervilha é rica em vitaminas, cálcio, fósforo, ferro e potássio e proteína.
Tem havido uma crescente produção de ervilha em seco na Europa nos últimos vinte anos. Comparativamente com a produção de ervilha em verde, a produção de ervilhas em grão seco tem uma expressão muito superior na Europa (Fig. 3). Por outro lado, em Portugal, a produção de ervilha em verde manteve-se praticamente constante nas últimas décadas e a produção em grão seco é praticamente inexistente (Fig. 3). É importante notar que os valores de produção em Portugal são ainda muito inferiores às médias europeias.
Morfologia da cultura
A ervilha caracteriza-se por ser uma planta herbácea anual, com um sistema radicular aprumado com nódulos fixadores de azoto atmosférico tal como acontece em outras culturas da mesma família botânica. Dado que as raízes desta cultura são relativamente frágeis e superficiais é necessário ter em atenção quais os procedimentos a adotar na fase de mobilização do solo de forma a não as danificar.
O seu caule possui um crescimento indeterminado, onde os primeiros nós são vegetativos e os nós superiores reprodutivos. As suas folhas são compostas, podendo ainda existir uma enorme variabilidade na sua morfologia. As flores desta planta surgem a partir do sétimo nó, nas cultivares mais precoces, ou a partir do vigésimo nó, nas cultivares mais tardias. O fruto é em forma de vagem, com dimensão variável.
Fases de crescimento vegetativo e reprodutivo
A fase de crescimento vegetativo é caracterizada, entre outros acontecimentos, pela produção de nós que originam maioritariamente as folhas. É importante assegurar um bom desenvolvimento da canópia da planta para maximizar o crescimento vegetativo, uma vez que o índice de área foliar contribui para o correto funcionamento metabólico da planta.
A diferenciação floral ocorre nos nós inferiores e é caracterizada pelo tempo de floração, nó de floração e tempo da iniciação floral. Estes dois últimos critérios podem ser modificados por fatores genéticos e ambientais. Segue-se posteriormente a fase de vingamento e desenvolvimento das vagens em que estas passam por três fases distintas: “vagem plana”, “vagem redonda” e maturação.
A fase da maturação inicia quando a vagem e as sementes mudam de cor.
Principais exigências d’ A leguminosa do mês
Sendo uma cultura de outono-inverno, a ervilha adapta-se melhor a clima frescos e húmidos. Na fase vegetativa, a ervilha tolera geadas moderadas desde que estas não ocorram durante o período da floração.
Temperaturas mais elevadas promovem um crescimento mais significativo da parte aérea quando comparada com o desenvolvimento radicular. No entanto, nestas condições climáticas, ocorre um encurtamento da fase de crescimento vegetativo, uma entrada na floração mais precoce e o número de flores e vagens por planta reduz. Quando as temperaturas são mais baixas, especialmente quando ocorrem no início do ciclo cultural, há um maior desenvolvimento do seu sistema radicular.
Quanto às preferências edáficas, verifica-se que esta cultura se adapta a diferentes tipos de solo, desde que a drenagem seja assegurada. Em caso de solos mal drenados deve ser feita uma correção do solo antes de a cultura da ervilha ser instalada. O pH ótimo para o desenvolvimento desta cultura situa-se entre os 6 e 7,5.
A instalação da cultura
A preparação do solo deve ser uma das principais etapas a ter em consideração no momento da instalação da cultura dado que permite conferir boas condições de arejamento para que a cultura se desenvolva corretamente. A superfície do terreno deve estar lisa, livre de torrões e com uma profundidade sementeira uniforme para garantir uma boa instalação da cultura.
Normalmente, a sementeira da ervilha é feita a uma profundidade de 2 a 3 cm e devem ser usadas sementes tratadas, especialmente em solos húmidos e frios.
No caso de pretender um período de colheita mais prolongado deve garantir que faz sementeiras espaçadas pelo menos 10 dias umas das outras, podendo ainda optar por cultivares mais precoces ou tardias consoante os seus objetivos.
A densidade de sementeira a adotar depende de vários fatores, entre eles, da variedade escolhida. Em cultivares mais tardias aconselha-lhe uma densidade de sementeira de cerca de 90 plantas/m2 e de 140 plantas/m2 em cultivares mais precoces.
No que diz respeito à fertilização, não deve ser feita uma adubação azotada dado que esta reduz a nodulação (e a fixação natural de azoto), promove o crescimento de infestantes e atrasa a maturação da cultura. Em casos em que a ervilha está a ser cultivada pela primeira vez no terreno, deve ser feita a inoculação das sementes com rizóbio. Mais ainda, pode ser feita uma fertilização em fósforo, caso este esteja presente em baixas quantidades no solo. A ervilha não reage bem à fertilização orgânica, portanto, deve-se ter atenção à incorporação de matéria orgânica no solo.
A ervilha é muito sensível ao excesso de água, especialmente nas fases de floração e enchimento das vagens. Por isso, o método de rega por aspersão é o mais utilizado para esta cultura.
O controlo de infestantes deve ser feito logo nas fases iniciais do desenvolvimento da cultura dado que esta é muito pouco competitiva relativamente a estas plantas. No entanto, por ter uma taxa de cobertura do terreno rápida, o aumento da densidade de sementeira pode ser uma estratégia eficaz para controlar o desenvolvimento de plantas infestantes. A tutoragem é também uma operação cultural a ter em conta nesta cultura, especialmente em algumas cultivares, permite evitar a acama das plantas de ervilha e auxiliar o seu crescimento (Fig. 4).
Acidentes fisiológicos, pragas e doenças d’ A leguminosa do mês
As principais pragas que afetam a cultura da ervilha são: ácaros, afídeos, escaravelho da ervilha, gorgulho, larvas mineiras (Fig. 5), mosca branca, traça e tripe da ervilha ou nematodes. As principais doenças que atacam esta cultura são: alternária, antracnose, ferrugem, míldio, fusariose, oídio, murchidão das plantas, podridão branca ou podridão cinzenta.
Os acidentes fisiológicos mais comuns na ervilha são o coração oco, ervilhas louras e ervilhas branqueadas. Estes acidentes são causados por desidratação excessivamente rápida durante a fase de maturação, ensombramento excessivo das vagens e excesso de humidade após a maturação fisiológica das sementes, respetivamente.
Colheita e pós-colheita da ervilha
Quando objetivo é a colheita das vagens (ervilha de quebrar ou ervilha torta) (Fig.6), estas devem ser colhidas quando as sementes ainda não estiverem completamente desenvolvidas. No caso do objetivo ser o consumo do grão, a chamada ervilha-de-debulhar, no momento da colheita as sementes devem estar completamente desenvolvidas, com uma tonalidade verde e sabor ligeiramente adocicado.
Em variedades precoces, as ervilhas estarão prontas a ser colhidas cerca de 85 dias após a sementeira; enquanto que em variedades de ervilha mais tardias, a colheita poderá ser efetuada cerca de 130 dias depois da sementeira. Os rebentos das ervilhas podem também ser utilizados em saladas, por serem extremamente precoces e tenros, e estes devem ser colhidos quando tiverem cerca de 10 a 12 cm de altura.
Pode ainda haver a opção de colher as ervilhas quando atingirem a sua maturação completa, de forma a consumir o grão em seco. Neste caso, as vagens devem ser colhidas quando estiverem completamente secas, no final do ciclo vegetativo desta cultura.
Fatores como o amarelecimento e a perda de água são muito importantes de ter em conta no pós-colheita, dado que contribuem para a perda de qualidade do produto final.