A PRODUÇÃO DE LEGUMINOSAS EM PORTUGAL
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- ciência participativa, PAC, políticas agrícolas
- 9 de Setembro, 2021
A inclusão de leguminosas nos sistemas culturais agrícolas é uma prática bastante antiga no nosso país, no entanto, a sua produção tem sofrido um decréscimo sis temático ao longo do tempo. Mais especificamente, na década de 80, a produção de leguminosas em Portugal era de cerca de 35000 toneladas/ano, sendo que estes valores de produção asseguravam um grau de aprovisionamento de 76,7%. Os dados de produção atuais são muito baixos, cerca de 2000 toneladas/ano, que correspondem a 16,9% das nossas necessidades de consumo. Principalmente após a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia, os incentivos políticos e estratégias europeias direcionaram o foco do setor agrícola para outras culturas (como o milho, o trigo e o arroz); e a globalização levou também a uma alteração na dieta dos portugueses e nas perceções dos consumidores em relação ao consumo de leguminosas.
Deste modo, Portugal (assim o resto da Europa, que seguiu a mesma tendência de abandono destas culturas) depende da importação de leguminosas de países como a Argentina (43%), Estados Unidos da América (12%), Espanha (12%), Etiópia (12%), Canadá (11%) e México (10%) para suportar os níveis internos de con sumo. Como resultado, o impacto ambiental associado à importação e a baixa sustentabilidade destas cadeias de valor, fragilizam o nosso sistema agroalimentar, cuja resiliência diminui face a desafios como as alterações climáticas ou problemas de saúde pública (por exemplo, a pandemia Covid19).
As medidas da Política Agrícola Comum (PAC) para os próximos anos, estabelecidas no final de Junho de 2021, incluem a criação de ‘eco regimes’ que pro movem a adoção de práticas amigas do ambiente e do clima. Estas práticas incluem a diversificação de culturas e a utilização de metodologias ‘mais verdes’. As leguminosas são culturas estratégicas neste contexto uma vez que, devido às suas características biológicas, melhoram a qualidade dos solos e promovem a fixação natural do azoto (Vasconcelos et al., 2020). Será, por isto, o momento ideal para sensibilizar o setor agrícola para os benefícios destas culturas e de que forma estas lhes permitem responder à nova reforma da PAC.
Assim, o desafio principal passa pela priorização da produção nacional de leguminosas e a criação de incentivos que estimulem o setor primário a incluir estas culturas nos seus terrenos (Balázs et al., 2021). Mas são ainda relevantes as barreiras que impedem a adoção mais generalizada destas culturas nos terrenos portugueses. Por exemplo, a baixa estabilidade de produção foi apontada como um dos problemas associados ao cultivo de leguminosas, mas já foi demons trado que a sua produtividade é tão estável quanto culturas de cereais de primavera/verão (Reckling et al., 2018). Por outro lado, as tecnologias associadas ao crescimento de leguminosas, tais como, mecanização, produtos fitofarmacêuticos ou mesmo o acesso a variedades melhoradas, continuam aquém daquelas existentes para os cereais (Vasconcelos et al., 2019). É urgente promover a investigação e desenvolvimento nesta área, por forma a desenvolver equipamentos adaptados a estas culturas, homologar meios de controlo de pragas, doenças e infestantes (uma vez que as atuais soluções comer ciais existentes são insuficientes) e apostar na inscrição de novas variedades, de diferentes espécies, que estejam aptas a serem produzidas em condições edafoclimáticas variadas.
Por forma a acompanhar as tendências atuais da produção de leguminosas em Portugal e consumo, é primordial criar uma cadeia de produção comercial organizada, que permita a ligação com os diferentes setores da fileira da produção de leguminosas. Dessa forma será possível aumentar a perceção do potencial do mercado para o produtor agrícola e simultaneamente, aumentar o seu valor para o consumidor.
Publicado na revista Agrotec, nr. 40, pp. 74-77 (Setembro 2021)