A PRODUÇÃO DE LEGUMINOSAS EM PORTUGAL

A inclusão de leguminosas nos sistemas culturais agrícolas é uma prática bastan­te antiga no nosso país, no entanto, a sua produção tem sofrido um decréscimo sis­ temático ao longo do tempo. Mais especi­ficamente, na década de 80, a produção de leguminosas em Portugal era de cerca de 35000 toneladas/ano, sendo que estes va­lores de produção asseguravam um grau de aprovisionamento de 76,7%. Os dados de produção atuais são muito baixos, cerca de 2000 toneladas/ano, que correspondem a 16,9% das nossas necessidades de consu­mo. Principalmente após a entrada de Por­tugal na Comunidade Económica Euro­peia, os incentivos políticos e estratégias europeias direcionaram o foco do setor agrícola para outras culturas (como o milho, o trigo e o arroz); e a globalização levou também a uma alteração na dieta dos por­tugueses e nas perceções dos consumidores em relação ao consumo de leguminosas.

Deste modo, Portugal (assim o resto da Europa, que seguiu a mesma tendên­cia de abandono destas culturas) depende da importação de leguminosas de países como a Argentina (43%), Estados Unidos da América (12%), Espanha (12%), Etió­pia (12%), Canadá (11%) e México (10%) para suportar os níveis internos de con­ sumo. Como resultado, o impacto am­biental associado à importação e a baixa sustentabilidade destas cadeias de valor, fragilizam o nosso sistema agro­alimen­tar, cuja resiliência diminui face a desa­fios como as alterações climáticas ou pro­blemas de saúde pública (por exemplo, a pandemia Covid­19).

As medidas da Política Agrícola Co­mum (PAC) para os próximos anos, es­tabelecidas no final de Junho de 2021, incluem a criação de ‘eco regimes’ que pro­ movem a adoção de práticas amigas do ambiente e do clima. Estas práticas in­cluem a diversificação de culturas e a utilização de metodologias ‘mais verdes’. As leguminosas são culturas estratégi­cas neste contexto uma vez que, devido às suas características biológicas, melho­ram a qualidade dos solos e promovem a fixação natural do azoto (Vasconcelos et al., 2020). Será, por isto, o momento ideal para sensibilizar o setor agrícola para os benefícios destas culturas e de que forma estas lhes permitem responder à nova re­forma da PAC.

Assim, o desafio principal passa pela priorização da produção nacional de le­guminosas e a criação de incentivos que estimulem o setor primário a incluir estas culturas nos seus terrenos (Balázs et al., 2021). Mas são ainda relevantes as bar­reiras que impedem a adoção mais ge­neralizada destas culturas nos terrenos portugueses. Por exemplo, a baixa esta­bilidade de produção foi apontada como um dos problemas associados ao culti­vo de leguminosas, mas já foi demons­ trado que a sua produtividade é tão es­tável quanto culturas de cereais de primavera/verão (Reckling et al., 2018). Por outro lado, as tecnologias associadas ao crescimento de leguminosas, tais como, mecanização, produtos fitofarmacêuticos ou mesmo o acesso a variedades melho­radas, continuam aquém daquelas exis­tentes para os cereais (Vasconcelos et al., 2019). É urgente promover a investigação e desenvolvimento nesta área, por for­ma a desenvolver equipamentos adapta­dos a estas culturas, homologar meios de controlo de pragas, doenças e infestantes (uma vez que as atuais soluções comer­ ciais existentes são insuficientes) e apos­tar na inscrição de novas variedades, de diferentes espécies, que estejam aptas a serem produzidas em condições edafo­climáticas variadas.

Por forma a acompanhar as tendências atuais da produção de leguminosas em Portugal e consumo, é primor­dial criar uma cadeia de produção co­mercial organizada, que permita a liga­ção com os diferentes setores da fileira da produção de leguminosas. Dessa forma será possível aumentar a perceção do po­tencial do mercado para o produtor agrí­cola e simultaneamente, aumentar o seu valor para o consumidor.

Publicado na revista Agrotec, nr. 40, pp. 74-77 (Setembro 2021)