A leguminosa do mês: Chícharo

A nossa “leguminosa do mês” de Maio é o chícharo, cujo nome científico é Lathyrus sativus. Esta cultura é pouco explorada, mas possui inúmeros benefícios nutricionais, ambientais e de produção. Em termos nutricionais, esta cultura possui um conteúdo elevado em flavonóides, proteínas, sais minerais e hidratos de carbono. Tem uma morfologia e aspeto bastante característicos mas, por vezes, o chícharo é confundido com culturas como as favas e tremoço.

A cultura do chícharo

Embora seja uma cultura ancestral, a produção nacional de chícharo tem níveis muito baixos e está maioritariamente concentrada em explorações de agricultura familiar. Em Portugal, esta cultura é produzida em maior escala na Região Sul, particularmente em Alvaiázere, no distrito de Leiria, onde é cultivada entre árvores, como oliveiras ou figueiras. No entanto, nas Beiras Litoral e Interior também tem alguma expressão.

Em termos nutricionais e à semelhança de outras leguminosas, o chícharo é uma cultura muito rica em proteína, razão pela qual é utilizada tanto na alimentação humana como animal.

Nas tradições mais antigas, o chícharo era presença assídua nas refeições, pois é um alimento que confere uma grande saciedade. Os seus grãos possuem forma quadrangular ligeiramente achatada, e são muito versáteis em termos gastronómicos. Esta leguminosa absorve muito bem os sabores, e pode ser utilizada tanto em pratos doces como salgados. No entanto, para qualquer tipo de receita deve-se sempre fazer a demolha dos grãos no dia anterior à sua utilização.

Atualmente, a cultura do chícharo tem conquistado um maior destaque por parte dos setores da investigação e produção, uma vez que se trata de uma cultura típica do nosso país, perfeitamente adaptada ao nosso clima e com múltiplas aplicações para a indústria.

Uma leguminosa, diferentes variedades

Existem variedades de chícharo mais adequadas para a produção de forragem e outras mais direcionadas para o consumo humano. O chícharo forrageiro possui, na maioria dos casos, um grão de menores dimensões com cores distintas. Dado que se destina à produção de forragem, a sua planta tem maior destaque. Por outro lado, nas variedades de chícharo adequadas ao consumo humano, o grão tem maiores dimensões e tonalidade esbranquiçada.

Cuidados a considerar com o chícharo

Em termos agronómicos, o chícharo é uma planta rústica, com uma grande capacidade de adaptação. Possui bons índices produtivos em solos pobres, pouco férteis e em climas de sequeiro. O seu sistema radicular é bastante profundo, o que confere à planta a capacidade de penetrar as camadas mais profundas e compactas do solo. O chícharo não tolera solos com pH muito baixo, razão pela qual se desenvolve muito bem em solos ácidos. A data da sementeira estende-se de fevereiro a maio (dependendo da região e condições edafoclimáticas) e a duração do ciclo desta cultura é cerca de quatro meses.

Quanto ao compasso de sementeira utilizado, usa-se normalmente um espaçamento de cerca de 25-30 cm na entrelinha e 15-20 cm de distância na linha. Independentemente do espaçamento da linha e entre linha adotadas, deve ser realizada uma boa preparação do solo, garantindo que este fica limpo e livre de resíduos da cultura anterior.

Uma das grandes vantagens do chícharo (que poderia justificar uma maior produção desta leguminosa) é a sua baixa necessidade de cuidados. Em termos de necessidades hídricas, este é muito resistente à seca e a água da chuva nos meses do seu cultivo pode ser mais do que suficiente para suprir as necessidades da cultura. Só no caso de períodos de seca prolongados é que pode ser necessário regar (especialmente na fase da floração).

A fase mais crítica relativamente ao controlo de plantas infestantes é a vegetativa, durante a qual o fecho da canópia da planta ainda não ocorreu na totalidade. Uma boa solução para reduzir eficazmente o desenvolvimento de plantas infestantes é a falsa sementeira (no momento que antecede a instalação da cultura) e o controlo mecânico destas plantas nas primeiras semanas do seu ciclo de vida.

A colheita do chícharo

A melhor fase de colheita do chícharo pode ser determinada pelo estado de desenvolvimento dos grãos. Se o objetivo for consumir o chícharo em fresco, as plantas devem ser colhidas quando o grão se apresenta pastoso. Caso se pretenda consumir o grão em seco, deve-se esperar que a cultura conclua o seu ciclo cultural e apresente as suas vagens e grãos totalmente secos (cerca de quatro meses após a sementeira). Neste caso, após colheita das plantas, estas devem ser secas para reduzir a humidade e preservar as características desejadas. Dois a três dias a secar ao sol é suficiente para que os grãos fiquem bem secos e o poder de conservação seja superior, especialmente durante o período do inverno.