Efeito da integração de leguminosas de cobertura como precedente cultural na produtividade de cevada

Na nossa rubrica mensal “O que diz a Ciência” deste mês, partilharemos algumas das principais conclusões de um recente artigo sobre o “Efeito da integração de leguminosas de cobertura como precedente cultural na produtividade de cevada”. Pode consultar o artigo completo aqui.

As culturas de cobertura dizem respeito a uma ampla gama de plantas que podem ser semeadas para cobrir o solo nu, com o objetivo de muitas vezes serem usadas tradicionalmente para reduzir a taxa de erosão do solo e a lixiviação de nutrientes. Entre vários outros benefícios, as culturas de cobertura são uma boa fonte de matéria-prima para formar a matéria orgânica que promove a estruturação do solo, a retenção de humidade, aumento da porosidade, uma melhor circulação de água e ar, entre outros fatores. Por outro lado, estas culturas acabam por libertar uma série de nutrientes através da decomposição promovida pelos organismos do solo o que é muito benéfico.

Objetivo do estudo

Contextualização

A cevada de malte de inverno (Hordeum vulgare L.) é uma cultura emergente no Nordeste dos Estados Unidos. Embora tenha o potencial para se tornar uma cultura rentável nesta região, é um desafio alcançar produtividades elevadas devido aos extremos de temperaturas sazonais muito acentuados.

Para que uma cultura de cevada de malte seja bem-sucedida, esta deve crescer bem, ter um bom rendimento e ser colhida e armazenada corretamente para manter a sua qualidade. Para garantir o sucesso produtivo da cevada, os produtores devem combinar os seguintes fatores: (1) escolher uma variedade adequada ao local de cultivo e que resista ao inverno e ao aparecimento doenças, (2) garantir um bom tempo na colheita para evitar a utilização parcial de secadores caso as condições meteorológicas não permitiram a secagem no campo e (3) utilizar práticas culturais benéficas para o ecossistema agrícola.

Uma vez que a cevada tem um potencial de afilhamento é importante ter em conta que o rendimento final da cultura não responde linearmente ao aumento da densidade de sementeira. No entanto, taxas de sementeira mais elevadas podem ajudar a neutralizar o efeito do excesso de azoto, uma vez que podem ajudar a reduzir a concentração de proteínas e o tamanho dos cereais. Culturas como o cânhamo-de-sol (Crotalaria juncea L.) e o trevo carmesim (Trifolium incarnatum L.) são cultivados no Nordeste como forragens de verão ou culturas de cobertura podendo encaixar-se bem em períodos de cultivo curtos antes da plantação de cevada de inverno no outono.

Quer sejam cultivadas como forragens ou culturas de cobertura, estas duas culturas podem produzir muitos impactos na produtividade agrícola e nos serviços dos ecossistemas.

Os ensaios realizados

Devido ao crescente interesse pela produção de malte nos Estados Unidos, foi conduzido um ensaio de dois anos entre 2015 a 2017 para avaliar qual o impacto de duas culturas de cobertura de leguminosas: cânhamo-sol (Crotalaria juncea L.) e trevo carmesim (Trifolium incarnatum L.). Para tal, foram realizados quatro tratamentos diferentes:

(1) apenas cânhamo-sol,

(2) apenas trevo carmesim,

(3) uma mistura de cânhamo-sol + trevo carmesim e

(4) sem cultura de cobertura/pousio.

Os tipos de cobertura utilizados.

Para a sementeira da cevada, foram utilizadas três taxas de sementeiras distintas nomeadamente 300, 350 e 400 sementes m-2.

Este ensaio avaliou o efeito da integração de leguminosas de cobertura como precedente cultural na produtividade de cevada de malte de inverno, de forma a perceber se estas práticas poderiam afetar o rendimento e a qualidade dos cereais produzidos.

Principais resultados obtidos

Produção de azoto e biomassa nas culturas de cobertura

– Mistura das culturas de cobertura cânhamo de sol + trevo carmesim levaram a uma maior produção de biomassa.

Produção de biomassa e azoto.

O impacto da taxa de sementeira no afilhamento, na sua sobrevivência no inverno e no crescimento da cevada

– Aumento da taxa de sementeira levou ao aumento da densidade populacional, mas de uma forma proporcional.

– O fator taxa de sementeira não teve um impacto significativo no crescimento vegetativo e desenvolvimento da cultura.

– A taxa de sementeira não demonstrou qualquer influência na germinação, altura atingida pelas plantas de cevada ou na severidade do aparecimento de doenças foliares.

Efeitos na produção de cevada.

Influência das culturas de cobertura e da taxa de sementeira de cevada no rendimento final da cultura e qualidade obtida

– A cevada cultivada após a cultura de cânhamo de sol e da mistura cânhamo de sol + trevo carmesim obteve maiores produtividades.

– O rendimento aumentou significativamente com o aumento da taxa de sementeira (pode estar relacionado com diferenças na qualidade do afilhamento, devido às diferenças na população inicial de sementeira de cevada).

– A qualidade geral da maltagem da cevada medida neste estudo foi semelhante à observada em outras cevadas de inverno no Nordeste.

– Os resultados deste ensaio indicaram que os agricultores regionais podem planear o seu sistema de cultivo sem se preocupar com os possíveis efeitos da utilização de leguminosas como precedente cultural da cevada de malte.

– Este estudo demonstrou que após a utilização de culturas de cobertura de leguminosas, o rendimento da cevada e a qualidade do malte não foi afetado.

– Estes resultados mostram que a cevada de malte de inverno pode ser integrada em rotações de culturas com leguminosas sem impactos negativos no crescimento da cevada, no rendimento e na sua qualidade.