Controlo de plantas infestantes na produção de grão-de-bico

Um dos maiores desafios que a nossa experiência participativa enfrentou foi o controlo de plantas infestantes no grão-de-bico. A falta de produtos homologados, independentemente do modo de produção, afeta de forma crítica a gestão desta cultura e é por essa razão que resolvemos abordar este tema na rúbrica “O que diz a Ciência” deste mês. O artigo analisado é “Efeito da variedade e do tipo de método de controlo de plantas infestantes na produção e rendimento final do grão-de-bico”. Para ver os resultados obtidos neste artigo na íntegra, consulte este link.

Nestes ensaios, foram avaliadas diferentes práticas de controlo de infestantes, variedades e densidades de sementeira distintas. O controlo de plantas infestantes foi feito por remoção por chama e mobilização superficial do solo em pré-emergência (< 10 cm).

Foram também avaliadas duas variedades de grão-de-bico, preto e CDC Orion, com densidades de sementeira diferentes, 150 kg/ha e 278 kg/ha, respetivamente.

O problema das plantas infestantes na cultura do grão-de-bico

A fase de crescimento vegetativo da cultura do grão-de-bico caracteriza-se por ser lenta numa fase inicial, e por dar origem a uma canópia aberta e uma altura reduzida. Por isto, a cultura do grão-de-bico pode ter pouca competitividade quando confrontada com o desenvolvimento das plantas infestantes em simultâneo.

Para minimizar putativas perdas de rendimento decorrentes destas condições, as integrações de várias estratégias para o controlo de plantas infestantes têm sido usadas e testadas. Algumas das técnicas mais comuns são a gestão das margens do campo, diferentes densidades e datas de sementeira, diminuição do espaçamento entre linha, métodos de controlo mecânico, controlo por chama e mobilização superficial do solo. Algumas destas técnicas (a sublinhado) foram as testadas no trabalho sob análise nesta rúbrica.

O controlo de plantas infestantes através do método de chama e mobilização superficial pré-emergência

O controlo físico de plantas infestantes através da mobilização superficial do solo em pré-emergência (3-5 cm) e também através da remoção por chama são dois exemplos claros de técnicas utilizadas durante a fase vegetativa da cultura do grão-de-bico. Estas técnicas reduzirem a pressão das plantas infestantes e ajudam a cultura do grão-de-bico a “ganhar tempo” para aumentar de tamanho e tornar-se mais competitiva relativamente às outras plantas.

Em particular, a mobilização superficial do solo é um método que pode “perturbar” a superfície do solo e criar uma camada do solo muito seca que evita o crescimento das plantas infestantes. Por outro lado, esta técnica ajuda a controlar as plantas infestantes que já emergiram, arrancando-as. É importante ter em consideração que esta prática tem de ser feita com bastante cuidado pois pode também danificar as plântulas emergentes de grão-de-bico.

Por outro lado, o controlo de plantas infestantes por chama é um método de controlo mais barato e que não contribui para trazer para a superfície do solo, sementes de plantas infestantes que estavam até então enterradas. Este método pode ser mais interessante para culturas em menor escala dado que, numa situação oposta, os custos com inputs são muito elevados. O controlo de plantas infestantes por chama acarreta também riscos de ocorrência de incêndio, pelo que esta técnica deve ser aplicada com o máximo dos cuidados. O controlo por chama pode também influenciar o processo de sequestro de carbono do solo através do processo da queima de restolho.

A descrição dos ensaios: principais metodologias utilizadas

Estas experiências foram conduzidas e delineadas em parcelas subdivididas com quatro repetições localizadas em Corvallis e Sidney durante os anos de 2016 e 2017.

Na parcela principal foram testados métodos de controlo de plantas infestantes pré-emergentes: sem mobilização, mobilização superficial e uso de chama. Nas subparcelas restantes foram testadas as combinação de duas cultivares de grão de bico, Preto e CDC Orion, com duas densidades sementeira distintas, 150 kg/ha e 278 kg/ha, respetivamente.

O grão-de-bico foi semeado a uma profundidade de 5 cm e a distância entre-linha utilizada foi 25 cm (em Sidney) e 16,5 cm (em Corvallis). As sementes foram inoculadas e as técnicas de controlo das plantas infestantes (chama e mobilização superficial) foram aplicadas entre o 9º e 10º dias após a sementeira e antes da emergência à superfície do solo (a emergência do grão-de-bico espera-se que ocorra cerca de 15 dias após a sementeira). Para minimizar o risco de incêndio, o controlo das plantas infestantes foi feito com condições de pouco vento e a velocidade de deslocação do trator durante o processo foi fixada nos 4 km/h. Foram ainda colhidas amostras de biomassa de plantas infestantes e posteriormente secas para determinação da sua massa (g/m2).

Principais resultados obtidos com estes ensaios

O grão-de-bico preto produziu um maior rendimento final de grãos quando comparado com a variedade CDC Orion. O aumento da taxa de sementeira em geral resultou na redução da biomassa de plantas infestantes, com um aumento do rendimento final dos grãos.

Relativamente ao método de controlo de plantas infestantes, a mobilização superficial em pré-emergência e o método de chama precisam de ser monitorizados de forma próxima para evitar danos emergentes nas plântulas de grão-de-bico. A mobilização superficial obteve resultados bastante interessantes nestes ensaios, dado que contribuiu eficazmente para o controlo de plantas infestantes.

O uso integrado de uma variedade de grão-de-bico resistente a doenças, juntamente com o aumento da taxa de sementeira e práticas de controlo de plantas infestantes em pré-emergência, pode permitir aumentar a produção de grão-de-bico.