A leguminosa do mês: Feijão

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  • 12 de Abril, 2022

O feijão é uma cultura muito popular no nosso país, representando uma excelente fonte de proteína vegetal quer para a alimentação humana, quer animal. Exemplo de uma das leguminosas mais consumidas desde a ancestralidade, a sua produção está associada a vários benefícios ambientais. Neste novo artigo da rubrica “A leguminosa do mês” iremos abordar alguns dos principais aspetos relacionados com esta cultura.

Aspetos culturais sobre a cultura do feijão

O feijão é amplamente consumido em todo o mundo, e grande parte da sua produção é proveniente do continente asiático. Em geral, o feijão é cultivado para grão, embora mais recentemente também esteja a ser produzido para consumo em fresco/verde.

Em termos nacionais, dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) apontam para um decréscimo gradual da superfície cultivada dedicada a esta leguminosa. Por esse motivo, Portugal está altamente dependente dos mercados externos e a sua balança comercial é extremamente deficitária. Portugal não tem, atualmente, capacidade de fazer face às necessidades alimentares relativas a esta cultura, e os baixos níveis de produção de feijão não são capazes de satisfazer a procura crescente de fontes alternativas de proteína vegetal.

Ciclo da cultura do feijão

Tendo em consideração o desenvolvimento da cultura, o ciclo das cultivares de feijão pode ser classificado, segundo Freire-Filho et al. (2005), como: superprecoce (maturação até 60 dias), precoce (ciclo de 61-70 dias) e médio (ciclo de 71-90 dias).

O desenvolvimento da planta de feijão pode ainda ser dividido em duas fases: fase vegetativa (V) e fase reprodutiva (R). A fase vegetativa é constituída pelas etapas V0, V1, V2, V3 e V4 e corresponde ao desenvolvimento foliar/crescimento em altura da planta. Já a fase reprodutiva é constituída pelas etapas R5, R6, R7, R8 e R9 e inicia-se após a entrada na fase da floração e consequente desenvolvimento das vagens e enchimento do grão.

Aspetos a ter em conta para cultivar feijão

O compasso de sementeira para esta cultura é variável tendo em conta os objetivos de produção, parque de máquinas e variedade de feijão escolhida. A distância entre plantas oscila entre os 15 a 50 cm e a distância entre linhas de 50 a 100 cm. A profundidade de sementeira varia entre 3-5cm.

Em regiões (como na Região Norte de Portugal) onde a cultura de milho é mais prevalente, é possível adotar o compasso de sementeira usado nesta cultura – cerca de 70 cm entre linhas e 15 a 20 cm entre plantas na linha.

No momento da escolha da variedade de feijão, é importante ter em consideração se a cultivar selecionada é tolerante a problemas fitossanitários como ácaros, gorgulho, lagarta, mosca branca, antracnose e ferrugem, que são aqueles mais associados a esta cultura. Relativamente às plantas infestantes, pode ser utilizada uma densidade de sementeira maior, para reduzir o desenvolvimento destas infestantes.

Quanto às principais características edafo-climáticas mais propícias ao desenvolvimento da cultura do feijão, esta cultura é tolerante a solos pouco férteis e adapta-se facilmente a temperaturas mais altas e com baixa disponibilidade de água. Estas características acabam por ser bastante vantajosas tendo em consideração as alterações climáticas que atualmente vivenciamos e por isso podem representar uma boa alternativa de cultivo quando comparada com culturas mais exigentes, tanto em termos de necessidades hídricas como nutricionais. Por outro lado, esta cultura é sensível a condições excessivas de humidade, temperaturas demasiado baixas ou geada. Assim, a época de cultivo mais adequada é na primavera-verão (sementeira realizada nos meses de abril-maio-junho, depende da variedade e condições edafo-climáticas).

Tal como já descrevemos para outras leguminosas, o feijão é capaz de estabelecer simbiose com o rizóbio e com fungos micorrízicos, resultando numa redução na aplicação de adubos inorgânicos azotados e em práticas agrícolas mais sustentáveis. Porém, pode ser realizada uma adubação de fundo para complementar com outros macronutrientes e colmatar alguma necessidade nutricional.

A instalação da cultura do feijão

O feijão desenvolve-se melhor em solos franco-arenosos com pH neutro, bem drenados e em terrenos planos ou com pouca inclinação. Assim, na fase de instalação da cultura, é importante lavrar e gradar, especificamente, realizar duas gradagens cruzadas. Se possível, deve-se evitar o reviramento do solo com alfaias de aivecas. Podem ser utilizadas grades de discos recortados, com a finalidade de destorroar e nivelar o solo para facilitar e aumentar a eficiência da sementeira. Para complementar, podem ser utilizadas grades disco leves ou escarificadores/vibrocultores.

Como cuidados principais na altura da instalação do feijão, é importante realizar o controlo precoce das plantas infestantes, utilizando, por exemplo, um sachador do milho, (nos casos dum espaçamento entre linhas de 70 cm); e também o controlo fitossanitário de pragas e doenças e a realização de uma a duas regas entre o início da floração e o enchimento do grão (pode aumentar a produtividade).

A Colheita do feijão

O feijão pode ser colhido com uma ceifeira debulhadora, usando uma “cabeça de plataforma” ou uma “cabeça de colheita em linha”. Como as vagens são relativamente longas, algumas tocarão o solo ou estarão muito perto e é, por isso, importante que a altura do corte seja o mais próximo do solo possível.

A colheita do feijão, na maioria dos casos, deve coincidir com o início da estação mais quente e seca do ano, para evitar a deterioração das vagens no caso de não serem imediatamente colhidas. É importante ter em conta que as vagens secas não devem ser deixadas no campo por mais de 2 semanas após atingirem a maturação completa.